Michel de Montaigne

Michel de Montaigne, nascido em 1533 no Castelo de Montaigne, foi um filósofo e ensaísta francês da Renascença.

Seu pai era um destacado comerciante, enquanto sua mãe provinha de uma abastada família judia hispano-portuguesa que havia se refugiado em Toulouse.

Ele frequentou o Colégio de Guiana, em Bordeaux, onde teve a oportunidade de estudar sob a orientação de renomados professores humanistas da época, incluindo o erudito poeta latino George Buchanan. Ele integrou o parlamento de Bordeaux por treze anos. Faleceu em 1592, aos 59 anos.

Obras

Em 1580, Montaigne publicou sua principal obra: Ensaios (Essais, em francês), composta de uma série de discussões sobre uma variedade de tópicos.

Em 1568, Montaigne publicou sua tradução da Theologia Naturalis sive Liber Creaturarum (“Teologia Natural ou o Livro das Criaturas”) do teólogo espanhol Raimond Sebond.

Montaigne também publicou as obras do filósofo francês, que também era seu amigo, Étienne de La Boétie.

Apologia a Raymond Sebond

“A Apologia de Raimond Sebond”, destaca-se como um dos ensaios mais importantes de Montaigne. Nele, o pensador francês apresenta uma visão cética, associada a um tipo de fideísmo cristão. Esta obra influenciaria pensadores como Descartes, Pierre Gassendi, Bacon e muitos outros. 

Montaigne relata que alguns leitores tiveram dificuldades em compreender a alegação de Raimond Sebond de que a fé cristã poderia ser estabelecida pela razão

A principal objeção a tese de Sebond era de que o cristianismo deveria se basear na fé, não na razão. Montaigne pretendia defender Sebond mostrando que, se todo raciocínio é infundado, o de Sebond não é pior do que o de qualquer outra pessoa, e, portanto, a religião deve se basear somente na fé. 

Montaigne argumentava que a natureza humana era caracterizada por vaidade, estupidez e imoralidade, e que as realizações humanas não eram tão impressionantes quando contrastadas com as habilidades dos animais. 

O “bom selvagem” no Novo Mundo parecia encarnar uma simplicidade e ignorância admiráveis, afastando-se dos complexos problemas intelectuais, legais, políticos e religiosos da civilização europeia.

Montaigne afirmava que nossa única conexão com a verdade não decorre de nosso intelecto ou razão, mas sim da graça divina.

O ceticismo de Montaigne

Montaigne investigou os ensinamentos das antigas escolas de filosofia, sustentando que os céticos Pirrônicos apresentavam perspectivas mais compatíveis com a religião cristã.

Ele argumentava que as demais filosofias entravam em conflito entre si, eram permeadas de contradições e absurdos e se fundamentavam em faculdades humanas falíveis.

Apenas os filósofos pirrônicos identificaram a fragilidade da razão humana. Ao se libertar das opiniões conflitantes e incertas, o ser humano cultivaria uma mente sã, preparada para receber aquilo que Deus desejasse registrar nela.

Outro motivo apontado por Montaigne para defender o ceticismo é o fato de mudarmos constantemente de opinião. Além disso, a própria ciência, a cada nova descoberta, muda suas teorias, e o que antes era considerado verdadeiro, passa a ser falso. Portanto, como poderíamos saber que o nosso conhecimento atual não será considerado falso no futuro? O ser humano não possui nenhum critério para distinguir o verdadeiro do falso.

Para avaliar a exatidão de nossos conhecimentos é necessário ter um critério. Contudo, é necessário algum método para testar esse critério, demandando assim um segundo critério para determinar como avaliá-lo, e assim por diante. Se a razão é considerada como o juíz de nossas experiências, então precisamos de justificativas racionais para fundamentar nossa razão, desencadeando um ciclo infinito desse processo.

Montaigne também sustentou a ideia de que todo o conhecimento que presumimos ter parece originar-se da experiência sensorial, no entanto, pode ser que não possuímos o número adequado de sentidos para alcançar um entendimento completo. Mesmo na presença de todos os sentidos, as informações adquiridas por meio deles podem ser ilusórias e incertas. As ilusões muitas vezes nos levam a acreditar que nossos sentidos estão sendo precisos. De fato, os sonhos frequentemente se assemelham tanto às experiências sensoriais que é difícil discernir se a própria experiência sensorial não é, na verdade, um sonho.

Montaigne concluiu que tentar compreender a realidade é semelhante a tentar segurar água. Podemos interagir com o mundo apenas através de suas manifestações externas, a menos que Deus escolha nos esclarecer. Na condição atual, nossa capacidade se limita a buscar seguir a natureza, vivendo da melhor maneira possível.

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