Metafísica de Aristóteles

Significado e contexto histórico da obra

Metafísica de Aristóteles não possui uma unidade literária, isto é, não se trata de uma obra sistematizada com precisão e finalizada. Ela nem mesmo foi escrita para publicação; na verdade, ela foi destinada especialmente aos alunos do Liceu, a escola filosófica fundada por Aristóteles.

O estudioso alemão Werner Jaeger foi além e afirmou que a Metafísica de Aristóteles nem mesmo possui uma unidade de pensamento. A partir de seu método histórico-genético, Jaeger concluiu como ilegítimas partes e até mesmo livros inteiros desta obra, pois estes livros, ou partes deles, apresentavam ideias que pareciam contradizer outras teses genuinamente aristotélicas.

No entanto, o método histórico-genético proposto por Jaeger acabou sendo superado. Segundo Reale, a Metafísica de Aristóteles é um conjunto de livros que demonstram o esforço de um pensamento filosófico, com meditações e repensamentos, mas com uma unidade especulativa de fundo.

As eventuais antíteses ou aparentes contradições nesta obra, devem ser entendidas justamente como este esforço filosófico de Aristóteles em constante evolução.

Aristóteles, por Luca Giordano, 1653, via Wikiart. Imagem de Domínio Público.

O significado de “metafísica”

O que significa precisamente metafísica? Sabemos que Aristóteles nem sequer utilizou este termo. De onde veio, então?

A interpretação tradicional considerava que o termo metafísica teria surgido por acaso. Pensava-se que significava simplesmente uma ordem cronológica das obras de Aristóteles, ou seja, tratava-se da obra posterior à Física. Em grego, meta significa “depois de”, “além de”, e physis significa “física”, “natureza sensível”.

No entanto, a metafísica, entendida literalmente em seu significado grego como “além da física”, expressava adequadamente o próprio conteúdo contido nesta obra. De fato, pode se dizer que os assuntos tratados por Aristóteles nesta obra estão além do plano físico.

As novas perspectivas sobre a compreensão da metafísica

No século XX, houveram novas interpretações sobre este termo. Alguns estudiosos das obras aristotélicas, defendiam que o termo “metafísica” fosse anterior a quem se acreditava terem sido seus inventores: Nicolau de Damasco e Andrônico de Rodes.

Segundo as teses de P. Moraux, este termo não deveria ser entendido simplesmente como uma caracterização do objeto desta ciência (trans-físico, supra-físico) como defendia Simplício. No entanto, esta questão não está definida, o fato é que a interpretação tradicional de que o termo tenha sido criado por acaso tornou-se pouco sustentável.

Os antigos comentadores da obra de Aristóteles não poderiam, segundo Reale, nos ajudar a compreender melhor a origem da palavra, já que eles acreditavam que era um termo originalmente aristotélico, mas estes comentadores podem elucidar como o termo metafísica era entendido.

Ciência das realidades inteiramente separadas da matéria

Os neoplatônicos acreditavam que o “meta” (do grego: além) expressava a própria natureza do objeto desta ciência, que não era física, mas estava além do plano físico, seu objeto era transcendente ao mundo.

Ciência das ‘coisas’ segundo a ordem de sucessão que ela tem com relação a nós

Já Alexandre e Asclépio entendiam o termo no sentido de que o objeto desta ciência era posterior, para nós, na ordem de nossos conhecimentos, mas anterior por natureza.

A ciência das causas e dos princípios primeiros

Na leitura da obra, podemos extrair os diversos significados desta ciência que o próprio Aristóteles apresenta.

  • Ciência das causas e dos princípios primeiros e supremos;

Causa ou princípio é razão de ser de algo, é quando explicamos algo respondendo o porquê da própria coisa. Podemos, por exemplo, conhecer empiricamente que o fogo queima, mas os sentidos não nos fornecem o motivo pelo qual o fogo queima.

A Metafísica de Aristóteles não tem por objeto um ser em particular, ela busca a causa de todas as coisas, de toda a realidade. Nesse sentido, ela é a ciência que busca o porquê de todas as coisas.

A ciência do ser enquanto ser

Num segundo sentido, e em harmonia com o anterior, é definido como:

  • Ciência do ser enquanto ser;

Segundo Aristóteles, há ciências que estudam o ser em algum aspecto particular, por exemplo a biologia que estuda o ser enquanto vivo. Há nessas ciências particulares um isolamento de uma característica particular a fim de investigá-la. Esta ciência não busca investigar alguma particularidade dos seres no mundo, ela busca, na verdade, investigar o ser sem qualquer determinação, particularização.

Ela busca o ser enquanto ser, a realidade em si mesma, suas condições e princípios primeiros. Ela assim é ciência universal, porque estudando o ser enquanto ser, pode elaborar princípios que se aplicam a todos os seres determinados.

Teoria da substância

A metafísica de Aristóteles é também definida como:

  • Teoria da substância

A substância é, para Aristóteles, aquilo que subjaz nas mudanças. Se a metafísica busca os primeiros princípios e as causas, a substância enquanto princípio ontológico primeiro será seu objeto principal de estudo. O ser, para Aristóteles, possui diversos significados, e a substância é o principal e é aquilo que fundamenta todos os outros. Por isso, é definida como ciência da substância.

Ciência teológica

Aristóteles também define como ciência teológica porque ela possui duas características:

  1. ela é ciência que Deus possui em grau supremo;
  2. tem por objetos as coisas divinas;

A filosofia primeira, isto é, a metafísica de Aristóteles, diferente da física cujo objeto é o ser em movimento, investiga a realidade separadas e imóveis e, por isso, ela é dentre todas a mais divina e mais digna de honra.

Os principais conceitos da Metafísica de Aristóteles

1) Ato e potência

Na metafísica de Aristóteles, ato significa aquilo que uma coisa é, uma coisa já realizada; potência é aquilo que pode vir a ser, ou seja, uma possibilidade que pode ser concretizada.

Por exemplo, o mármore é mármore em ato, mas ele tem potência (possibilidade) de se tornar uma estátua. Ato e potência é, sem dúvidas, um dos conceitos pilares da filosofia de Aristóteles.

2) Matéria e forma

Todo ente sensível é composto de matéria e forma. A matéria é aquilo pelo qual uma coisa é feita, por exemplo, a estátua pode ser feita de bronze; e a forma é o princípio que determina a matéria fazendo com que ela se torne uma essência determinada (madeira, ouro, pedra, etc).

A matéria é identificada com a potência, e a forma com o ato.

3) As 4 causas

Todo ente, segundo Aristóteles, possui 4 causas.

  1. Material: aquilo de que algo é feito (estátua feita de bronze, por exemplo);
  2. Formal: causa que determina a matéria; a essência de algo;
  3. Eficiente: refere-se ao agente causador (o escultor é causa eficiente da estátua);
  4. Final: aquilo para o qual uma coisa é feita (causa final da mesa é servir de suporte)

4) O primeiro motor imóvel

primeiro motor de Aristóteles é o princípio absoluto de todo movimento. Ele é ato puro, não tem qualquer potência em seu ser, portanto é um ser imaterial, uma substância suprassensível.

Ele é pensamento de pensamento. E move todas as outras coisas como causa final. Enfim, o motor imóvel é Deus, mas um Deus sem qualquer relação com alguma religião, é apenas um ser que Aristóteles considerou fundamental para explicar o cosmos.

5) A natureza do movimento

A explicação da dinâmica do movimento é bastante interessante. Aristóteles buscou refutar as teses de seus antecessores sobre o movimento. Heráclito acreditava que tudo estava em movimento, enquanto Parmênides negava todo e qualquer movimento.

Aristóteles dizia que o movimento era real, mas a realidade não estava em constante movimento. O que acontece é que todo ser tem potência para se tornar alguma outra coisa. O movimento, ao contrário do pensava Parmênides, não é uma mudança do ser para o não-ser, mas sim mudança do ser para uma outra forma de ser.

Movimento, portanto, é a passagem da potência ao ato.

Referências

ARISTÓTELES. Metafísica. Ensaio Introdutório, texto grego com tradução e comentário de Giovanni Reale. Tradução de Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 2001.

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